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Designing my EVS

O que fazes na Polónia?

Acho que está na altura de responder mais objetivamente a esta pergunta. Normalmente respondo “serviço voluntário europeu” mas desta vez deu-me para escrever sobre a minha rotina, o que faço e como.

Muitos sonham em ir para África fazer voluntariado, eu própria já o fiz, mas já pensaram que aqui, na Europa, também existem projetos muito interessantes e tanto ou mais desafiantes e que precisam do nosso contributo? Eu escolhi a Polónia mas encontram projetos em quase todos os países com a duração de 1 a 12 meses. Só pode ser feito uma vez na vida e até aos 30 anos. São projetos financiados pela Comissão Europeia, mais concretamente pelo Erasmus+. O voluntário não tem quaisquer despesas e ainda tem dinheiro de bolso (vá, não é muito mas consegue-se ser feliz assim ok?).

Moro há quase sete meses em Gdansk, uma cidade no norte da Polónia banhada pelo mar báltico. Faz parte da “Tri-city” pois está muito próxima de duas outras cidades: Sopot e Gdynia. Assim que cheguei tive cerca de 3 semanas de adaptação à cidade, ao clima e só a ter aulas de polaco. Para quem chega no inverno, a adaptação ao clima é bastante sentida pelo nosso corpo. O ar é mais pesado, ficamos cansados muito depressa e como em Janeiro o sol se põe às 15h30, o corpo reage como se fizéssemos parte de um clube sénior e pede por uma sesta diária!

Eu e mais 8 voluntários estamos a trabalhar para a Caritas - importante dizer que esta organização na Polónia é bastante conceituada, pelo que sempre que dizemos que somos voluntários da Caritas as pessoas tratam-nos logo melhor -, em centros distintos onde crianças dos 2 aos 17 vão depois das aulas porque querem e quando querem.

Estou a viver com as raparigas, a Guada - argentina que vive há muito tempo em Espanha-, e a Noemi - italiana da ilha da máfia: Sicília! A nossa casa é pequena mas chega perfeitamente para as três! Recentemente vivemos também com a Helska, uma hamster herdada pelos espanhóis e portugueses que cá estavam em erasmus.

Beñat, Noemi, eu e Guada

Eu e Noemi trabalhamos no mesmo centro mas com diferentes grupos. Ela com os pequenos, eu com os adolescentes. Por vezes trabalhamos juntas com os dois grupos, imaginem só a confusão! O meu trabalho como voluntária passa por ajudar muito a Karolina, a responsável pelo grupo Sparta. Começo a trabalhar às 12h a preparar as atividades para eles, e acabo às 18h. É importante salientar, uma vez mais, que este espaço chamado “Świetlica” (traduzido à letra é Sala Diurna) funciona com apoios à Caritas e da Segurança Social, e as crianças que para lá vão são inscritas previamente porque têm bastantes problemas em casa. Tenho adolescentes com os pais alcoólicos, ou ligados às drogas, ou são 5 irmãos a dormir no mesmo quarto… Muitos deles só conseguem brincar, estudar, fazer os trabalhos de casa no centro. Outros sofrem de bullying na escola, não têm amigos a não ser ali… Há de tudo um pouco. No fim, acabam por escolher o centro da Caritas como a sua segunda casa. Onde fogem um bocadinho à situação familiar e se reúnem com os seus amigos mais próximos.

A sala do grupo Sparta

Em relação ao meu dia-a-dia. Tenho sempre entre 1 a 2 horas sozinha com a Karolina para podermos preparar o dia ou a semana. Quando o grupo chega, depois das aulas, por volta das 14h, fazem os trabalhos de casa ou jogam e depois há sempre uma ronda de “Como é que estás?” para todos e claro que me obrigam a responder em polaco. De seguida é servido o “Obiad”, a refeição que para eles é o jantar (às 15h30) mas que para mim é almoço. Irei ter esta discussão eternamente… Mas vá se lá entender as refeições polacas… Por fim, e até as 18h, fazemos a atividade planeada previamente. Aqui damos largas à imaginação e fazemos de tudo um pouco: desde filmes (dobrados claro está, mas com legendas em inglês para a Pani Mafi), jogos no jardim quando está bom tempo, sessões de artes e artesanato, apresentações que eu possa vir a fazer, jogos de tabuleiro e cartas, experiência e, o que gosto mais, atividades de reflexão sobre variados tópicos, como relações inter-pessoais, sentimentos, etc. Agora que é verão as coisas mudam ligeiramente. Por causa das férias, as crianças vão de manhã e os grupos estão juntos portanto tudo o que organizamos tem de ser dirigido às duas faixas etárias.

Eu, a Natasza e a Ola

Finalmente, e para terminar este exaustivo texto descritivo - coisa que não me vêem muito a fazer - quero-vos falar do tópico assustador: a barreira linguística! Sim, o polaco é um bicho de sete cabeças, ou mesmo mais tendo em conta que 7 são os casos de declinação de todas as classes de palavras. Ou seja, por não terem artigos, a língua é tão flexível que eles mudam a palavra para os diferentes significados. Agora que já vos pus a par desta sopa de letras, imaginem-me a falar…. Não é a pior coisa do mundo mas muitas vezes sinto-me como os imigrantes em Portugal que não conjugam os verbos mas, no meu caso, é a não usar estes 7 casos (até porque só sei 2 e mesmo assim…), porque verbos, esses eu sei conjugar. Ainda assim, ao início era muito complicado eu entender e principalmente falar. Mas com o tempo sinto-me cada vez melhor e tenho que confessar que as crianças e os adolescentes ajudam muito. Eles compreendem que não sou polaca, quando não entendo repetem ou fazem gestos… No meu grupo, três deles sabem umas coisinhas de inglês mas acreditem que não dá para muita coisa. No entanto, a mais de meio do projeto, sinto-me muito bem com a língua! De repente até dou por mim a falar polaco com a Noemi…

Kuba, eu, Sebastian e Madzek
Szymon, Karolina, Ola, Magda, Sebastian, Kuba, Olec e Madzek
Dominik, Ola, Natasza, Brygida e Szymon


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